Wednesday, March 28, 2007

As dores da inovação

Para quem possui um perfil inovador, a vida não é nada fácil mas por compensação não existe monotonia. A criatividade e o arranque ao conforto balofo do que "está bem" tem como obstáculos a desconfiança, o pessimismo disfarçado de sabedoria, a ameaça velada do sentimento de que algo nos está a passar ao lado. A mentalidade segura e confortável de "saber com o que contamos" acomoda-se refastelada no sofá do conformismo e é em si mesma o pior e maior obstáculo à evolução e à inovação. Então o que fazer para mobilizar, a partir de dentro, uma organização? Pergunto-me isso todos os dias, para além da primeira pergunta que me assola ao acordar: "Será que hoje serei capaz?". Queremos dar soluções diferentes, fazemos inúmeras reuniões no sentido de desenvolver posturas de diferenciação, mas apostamos realmente em inovar-nos? A inovação tem de ser algo que parte do sujeito para a comunidade. E esse é o principal problema com o qual nos debatemos. Inovar-nos a nós mesmos. A mobilização tem de se revestir ela mesma de técnicas e modos inovadores. Já não somos sensíveis aos mesmos estímulos, por isso há que mudar linguagens, formas e meios. Os próprios serviços e soluções rapidamente têm de ser substituídas por outras que respondam às novas necessidades, sob pena de deixar passar o comboio para os concorrentes. Por outro lado, temos que ser críticos em relação ao potencial humano. Contratar os melhores, formar para a excelência, ter o arrojo de misturar equipas com vertentes variadas não apenas tecnicamente mas culturalmente. Tal permite obter um caldo riquissimo que potencia a inovação e a criatividade.
Numa sociedade em que as pequenas e médias empresas são o principal tecido empresarial, há que promover as join ventures, as parcerias, as colaborações sinérgicas.
Mas já todos sabemos disto, ouvimos em alguma convenção, lemos ou admitimos interiormente pelo bom senso que nos assiste. A minha pergunta é: E como se faz?
Como responsável pela implementação de uma tecnologia inovadora sinto todos os dias a resistência, a luta, quer interna, quer externa de um corpo estranho que teima em infiltrar-se contra natura nos hábitos, processos e modos de pensar o trabalho e de ver a própria vida.
A abordagem tem de ser pessoal, transmíssivel, dedicada. Carismática. É pela liderança e pela identificação com o outro que conseguimos esse efeito de espelho capaz de extrair o esforço extra e a dedicação para além do mero cumprimento do dever. É pelo entusiasmo e pelo optimismo. Em Portugal, pela nossa cultura baseada na confiança pessoal e familiar e desconfiança perante as instituições, a liderança assume esse papel fulcral de fazer mover a agulha.
A inovação é uma atitude. Não se resume aos avanços da tecnologia, não bastam as técnicas e estratégias sofisticadas, não se reduz a ser diferente. É vontade. Esse parece-me ser um dos maiores desafios do nosso tempo: mover as vontades no sentido da mudança de mentalidades. Para uma maior abertura, rigor, criatividade. E para retirarmos o melhor dos outros temos de dar o melhor de nós mesmos.
Deixo-vos uma frase que ouvi ontem pela boca do Dr. Mário Assis Ferreira, da Estoril Sol, por ocasião do lançamento do livro do Prof. Dr. Pedro Moreira, Liderança e Cultura de Rede (o qual aconselho vivamente!), frase esta que persiste como aquelas músicas que cantarolamos para dentro sem saber bem porquê:

"Gerir pessoas é potenciar as suas mentes."

1 comment:

Pekena said...

Olá Marisa!
Desde já quero dar-te os parabéns pelo teu blog. Finalmente encontro um blog que aborda temas diferentes daqueles que estou habituada a ver. Aqui fala-se de gestão, de pessoas, de formação. Maravilha!

Como eu adoro esta temática e não é por isso que me dedico ao estudo dos Recursos Humanos.

Eis a grande questão: Como gerir pessoas??
Pois é, "Gerir pessoas é potenciar as mentes" e nada mais nos pode levar a pensar em inovação... nos colaboradores, na organização como um todo. Acompanhar esta mudança contínua em que vivemos é fundamental, pois caso contrário ficamos estagnados no tempo.
É importante que as pessoas se sintam envolvidas nas tarefas, na tomada de decisão, estejam motivadas para mudar, ou melhor, para acompanharem o ritmo da mudança.
A formação também é um ponto imprescindível de valorização nas organizações, e eu que bem aprendi isso com o Pedro Moreira. Para mim é eleito como o melhor professor que já tive.

Também estive presente na edição do livro do seu livro, e adorei o comentário do Dr. Mário Assis Ferreira.

Boa semana,
Bjs da Pekena***